A rotina cura a rotina.

Um guia para sair do hiato criativo.

A rotina cura a rotina.

Nos últimos dias, fui surpreendido por algo que jamais imaginei que aconteceria: perdi a mão para fazer design.

Não sei como é o dia a dia do seu trabalho, mas o meu, no ponto atual, não exige um esforço criativo muito grande. Hoje fazemos mais uma gestão de projetos do que necessariamente criar algo novo, inovador, disruptivo. E isso vem de uma série de fatores que não cabem neste texto.

E apenas para pontuar: isso não é uma crítica ao meu emprego ou à empresa. Sei que existem muitas coisas mais importantes do que tentar ser criativo e inovador (como aumentar o caixa, por exemplo).

O fato é que, depois de dar uma pausa em toda a minha vida digital, entrei em um marasmo criativo. Sem abrir Photoshop, sem fazer nada novo, sem procurar referências.

Parei com uma rotina de navegar por Pinterest, Dribbble e Behance. Viajar minutos a fio por diversos projetos, analisando os detalhes, os porquês. Conhecer novos profissionais, tentar entender suas mentes, suas motivações.

Minha rotina não tinha mais nada disso. Parece que as redes sociais sugaram minha energia criativa e não sobrou mais nada dentro de mim além de "eu não quero ver nada de ninguém". E me fechei.

Cheguei a um ponto de começar a apagar meus posts do Instagram, num ato de desespero como se isso fosse mudar algo dentro de mim, da minha auto percepção sobre meu trabalho.

De fato, me senti drenado. Drenado de uma maneira que me senti vazio "visualmente". Incapaz de colocar algo para fora que parecesse minimamente significativo. E posso dizer a verdade? É um sentimento devastador.

Quem nos vê de fora imagina que somos máquinas caça-ideias. Eu não sou, nem nunca fui. Esse negócio de ser criativo não é fácil.

Estou mais para uma máquina de síndrome do impostor. Passo mais tempo pensando que meu trabalho é um lixo, do que pensando em novas ideias.

Quando comecei a escrever este texto, minha intenção era tentar dar uma direção de como sair dessa armadilha que nós criamos para nós mesmos. Mas sendo sincero, depois de refletir um pouco, acho que não tem muita saída não.

Acredito que o caminho seja apenas perseverar no trabalho e confiar no processo. Meio clichê, eu sei.

Provavelmente você passou por esse mesmo sentimento algumas dezenas, talvez centenas de vezes. Esse mesmo processo de se sentir tão incapaz que simplesmente cai em um hiato de criações.

E a solução para mim tem sido o remédio mais óbvio e insosso possível: seguir a rotina, porque eventualmente você destrava.

Na prática:

  1. Mantenha o hábito de pesquisar referências, mesmo quando está desanimado e sem ideias.

  2. Todo ser criativo como eu e você passa por isso com certa frequência, inclusive os grandes nomes da indústria. Te recomendo assistir alguma biografia de criativos. Vai te ajudar a entender que isso faz parte do processo.

  3. Um diário pode ser seu melhor amigo. Se te faltam ideias, pesquise; se sobra confusão, escreva.

Essas dicas mais práticas são coisas que estou fazendo nesse exato momento enquanto estou no processo de “saída da caverna”, documentando enquanto aprendo. E tem funcionado, melhor do que eu imaginava.

Mais clareza, mais vontade de sentar e produzir algo (como esse texto aqui). Menos impostor, mais criador.

Não deixe de lado o que te faz criativo: ler, escrever, assistir, ouvir, andar, correr, ou o que quer que seja. São esses pequenos movimentos cognitivos e físicos que mantém a máquina operando.

Eu sei que não é aquele final feliz que você estava esperando, mas essa ideia de final feliz só existe na Disney. Essa surpresa em “perder meus super poderes” me trouxe de volta ao mundo real e à conclusão de que a vida criativa é instável, e por isso precisamos focar no processo que nos mantém nos trilhos.

A rotina cura a rotina.