Casas, Parafusos e Mouses

O dia em que um parafuso me ensinou sobre a vida.

Casas são seres vivos. Elas tem suas necessidades próprias, e que dão muito trabalho. Precisam de limpeza, organização, decoração, personalização e manutenção constante. E isso pode ser assustador.

Quando me casei, saí da casa dos meus pais, onde meu pai resolvia a maior parte dos problemas relacionados a manutenção. E por mais que eu goste de ferramentas, quando precisei colocar a mão na massa, percebi que não sabia tanta coisa quanto achava que sabia.

Sabe, a gente acha que por viver em casas, a gente entende elas. Mas isso não é uma completa verdade. Mesmo coisas simples como instalar uma prateleira podem se tornar um pesadelo (um pesadelo torto na parede).

Existem muitos novos conhecimentos que você é empurrado quando passa a ter sua própria casa, mas, sinceramente, nenhum chega perto do mais sombrio dos livros ocultos. Aquele livro que não se pode nomear, que arrepia até o último fio de cabelo. Você sabe do que eu estou falando, sim, estou falando de Elétrica.

Se você já teve contato com esse fantasma, sabe que ele te assombrou e talvez assombrará durante muito tempo. Ele é assim mesmo, assustador, enigmático e pode ser até fatal.

Como rato de YouTube, tive poucos problemas para instalar tomadas e identificar fiação. Mas existe um demoniozinho dentro do livro oculto da elétrica e seu nome é Espelho de Tomada.

Essa foi a minha cruz, a minha saga, a minha penitência.

Espelhos de tomada são criaturas malignas, é sério. Elas foram criadas com um único propósito: esconder aquele buraco na parede onde passam os fios. Simples, né? Não os da minha casa. Os da minha casa tem vida própria. Eles não param no lugar que foram parafusados, porque o parafuso não pega no buraquinho que foi designado para fixar.

Eu juro que tentei de tudo para fazer isso dar certo. Vi todos os macetes possíveis para fazer um parafuso pegar. Fita isolante, alicate, comprei salva-caixinhas (e fiquei pobre), usei fita dupla-face e nada. E algumas tomadas, depois da minha dignidade não mais existir, eu colei com cola P.U. Nem isso segurou. A gente tinha uma casa toda arrumadinha, bonitinha, mas com tomadas caindo da parede.

E se você é do tipinho que eu sou, e eu sei que você é, sabe que isso tirou meu sono. Como pode, um ser humano crescido como eu, ser vencido por meia dúzia de espelhos de tomada?

Eu comprei a tomada, ela veio com todas as partes e os parafusos, mas não funciona. Não encaixa, não rosqueia.

Mas chega um ponto na vida, que a gente simplesmente começa a deixar pra lá. A gente investe dinheiro pra fazer as coisas darem certo, tempo, conhecimento e não funciona. Parece que pra você não vai dar certo. Pra todo mundo deu, pra você não.

Dois anos se passaram e o problema continuava lá. Tomadas penduradas. E num momento de desespero, de clamor, de clemência, eu desabafei com um amigo engenheiro, rato de obra sobre isso.

“- Cara, não sei o que fazer sobre aquelas tomadas, e isso tá acabando comigo.

- Hum… Você já tentou usar um parafuso mais largo?”

Descobri que nem sempre os manuais e as fábricas entendem a vida real. E que a gente pode adaptar ideias diferentes pra fazer aquele projeto dar certo.

Minhas tomadas estão todas no lugar.

Era só usar um parafuso mais largo,

Jonatas